A guinada recente nos preços do etanol e do açúcar vem turbinando as ações das companhias sucroalcooleiras negociadas na BM&F Bovespa. Em menos de dois meses, os papéis dessas empresas se valorizaram mais de 20%, enquanto o Ibovespa, principal índice da bolsa, subiu 7,49%. Os investidores estão de olho no ganho que essas empresas terão no último trimestre do ano, equivalente ao 3º da safra 2015/16. O potencial é que no período a venda dos dois produtos impulsione a receita dessas companhias em pelo menos 40% em relação ao trimestre anterior.
Os preços do etanol hidratado, usado diretamente no tanque dos veículos, já vinham subindo em setembro quando a Petrobras, no dia 29 do mesmo mês, anunciou o reajuste de 6% na gasolina. Foi a fagulha que desencadeou em menos de dois meses uma valorização meteórica de 34% do biocombustível na usina, conforme referência do indicador Cepea/Esalq. Essa reação no mercado alcooleiro potencializou o sentimento de déficit global de açúcar no ciclo iniciado em 1º de outubro e impulsionou também as cotações da commodity – que desde então acumulam alta de 15,57% na bolsa de Nova York.
Desde 29 de setembro, as ações da Cosan, que controla o maior grupo de usinas de cana do país, a Raízen Energia, subiram 34,84% na BM&FBovespa. Os papéis da Tereos Internacional, dona da sucroalcooleira Guarani, tiveram alta de 34,15%. Os da São Martinho se valorizaram 20,44%. Apenas as da Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities, ficaram praticamente estáveis, com alta de 0,82%.
A grosso modo, o elevado endividamento em dólar da Biosev – 82% do total – é que impediu a alta de seus papéis nos mesmos níveis registrados pelas outras companhias, na visão de especialistas. A lógica é de que, ainda que aumentem a receita com a venda dos dois produtos, as empresas com maior endividamento em dólar acabam tendo que "devolver" parte desses ganhos ao fim da safra para pagar juros dessa dívida. Em nota, a Biosev explicou que a menor valorização de seus papéis no intervalo se deveu à baixa liquidez das ações, "que restringe a entrada de investidores institucionais".
Nos resultados divulgados na última semana, referentes ao trimestre encerrado em 30 de setembro (2º de 2015/16), as companhias do setor ainda não apresentaram preços médios maiores na venda de açúcar e etanol frente ao mesmo intervalo do ciclo anterior, o que já era esperado por analistas, uma vez que a guinada nos preços ocorreu no fim do trimestre.
Durante toda esta safra até meados de setembro, o preço do etanol ficou abaixo do registrado no mesmo período do ciclo anterior, devido à forte pressão de oferta das usinas em dificuldades financeiras, que precisavam fazer caixa. Entre julho e setembro, o preço médio do hidratado medido pelo indicador Cepea/Esalq foi de R$ 1,2104 o litro, abaixo da média de mesmo trimestre de 2014 (R$ 1,2153).
De outubro até a última semana, os preços médios do hidratado subiram 34%, conforme o indicador semanal Cepea/Esalq. Segundo cálculos da consultoria FG Agro com base no indicador Esalq/BM&FBovespa (posto em Paulínia), se os preços atuais, de R$ 1,670 o litro, se mantiverem até o fim do trimestre, em 31 de dezembro, o ganho de receita das usinas será no período de 40% em relação ao trimestre anterior.
No caso do açúcar, o potencial das usinas é vender o produto a valores, em média, 36,45% superiores aos do trimestre anterior, considerando o preço médio obtido entre outubro até agora. Mas projetando o preço atual para o fim de dezembro (indicador do açúcar cristal líquido posto em Santos (SP), que tem forte relação com a cotação do açúcar em Nova York), esse diferencial sobe para 44%, conforme a FG Agro.
O diretor da trading de etanol Bioagência, Tarcilo Rodrigues, lembra que o efeito das cotações do etanol e do açúcar no resultado das usinas depende de outros fatores, como a gestão e a condição financeira. As empresas que já fizeram a maior parte de suas vendas de etanol até setembro vão aproveitar menos os preços mais altos a partir de outubro. Com o açúcar, é a capacidade para precificar a venda – por meio de instrumentos de hedge – que será determinante no resultado das companhias.
No caso do etanol, destaca Rodrigues, os preços elevados na usina neste momento – na casa dos R$ 1,74 o litro – não podem ser replicados para toda a safra, uma vez que até setembro, esse valor estava bem mais baixo. Desde que começou a moagem de cana no Centro-Sul, em abril, até setembro, o preço médio do hidratado apurado pela trading é de R$ 1,22 por litro. Projetando-se que até o fim do ciclo, em março, o preço máximo vai alcançar R$ 2,05 o litro na usina, esse valor médio iria a R$ 1,408 o litro, conforme cálculos da Bioagência.
Apesar de elevado – 13% acima do preço médio alcançado na safra passada, a 2014/15, conforme o indicador Cepea/Esalq -, esse valor projetado para o atual ciclo empataria com os custos de produção do biocombustível nas usinas com despesas financeiras significativas, observa Rodrigues. Na média, o custo está na casa dos R$ 1,25 por litro, segundo a Bioagência. "Mas vai a R$ 1,40 quando se considera os R$ 0,15 por litro do custo financeiro".